“A luta não é para excluir os homens. É para incluir as mulheres”
8 de março de 2021 |
O CAU/PI entrevistou a presidente do CAU/BR, Nadia Somekh, primeira mulher a ocupar o cargo na instituição nacional. Durante a entrevista, Somekh avaliou a alta presença das mulheres na profissão, os principais desafios que a mulher enfrenta no mercado de trabalho e a necessidade de se pensar em cidades mais inclusivas do ponto de vista social, entre várias outras questões relevantes. Somekh também pontuou quais as ações o CAU/BR pretende desenvolver para garantir maior protagonismo às mulheres no exercício profissional da Arquitetura e Urbanismo. Uma boa leitura!.
1- Presidente, as mulheres são maioria entre os profissionais em 24 estados e mais o DF, em alguns casos, chegando a 70%. Ou seja, em quantidade, elas dominam a presença no mercado. Como a senhora vê essa alta presença das mulheres na profissão?
Realmente, as mulheres são maioria entre os profissionais em 25 das 27 Unidades da Federal (Estados e Distrito Federal). Eu acho que nos próximos tempos a maioria dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo serão jovens mulheres. O que a gente percebe nesse quadro é que, aos poucos, as mulheres vão ganhando protagonismo, mas ainda falta aumentar a representatividade feminina nessa mesma proporção. O CAU como um todo, nas eleições realizadas no ano passado, conseguiu chegar a uma representatividade meio a meio: metade são mulheres, metade homens. Mas se nós somos maioria, temos que pensar também na possibilidade de aumentar nossa representatividade política. Não só no Conselho, mas em várias outras instituições, no Congresso Nacional, por exemplo.
As mulheres são maioria, mas o que a gente percebeu, no ciclo de debates que realizamos, é que os homens tomam a dianteira. Não é que eles desempenham mais serviços no mercado. Eles assinam os projetos e as colaboradoras ficam em segundo plano. Eles têm uma postura de dar menos crédito que as mulheres. Já as mulheres têm mais facilidade para compartilhar, para ter uma gestão mais horizontal e para dar crédito. Então, talvez uma falsa ideia de que só os homens estejam predominando no mercado. As mulheres estão trabalhando e os homens estão recebendo o crédito e liderando as equipes. Vide as premiações, que são só masculinas e as mulheres que ficam por trás é que fazem o trabalho mesmo.
2 – Presidente, a construção e planejamento de cidades mais inclusivas é uma temática atual. Como atuar para fomentar discussões que levem a se pensar em cidades mais inclusivas para as mulheres?
Nós estamos precisando de cidades mais inclusivas e não só para as mulheres. Nós estamos vendo como essa pandemia está ampliando a miséria. A gente tropeça nas pessoas sem moradia. Então, a nossa função, enquanto arquitetos e arquitetas, é não só melhorar as condições de moradia da população mais vulnerável, mas fazer projetos urbanos de espaços públicos que dêem mais segurança. Para as mulheres, principalmente, mas também produzir novos projetos de espaços públicos e de habitação social para permitir que a maioria da população saia das condições precárias que hoje a gente enfrenta nas nossas cidades.
3 – Presidente, a mulher ainda enfrenta muitos desafios em todas as profissões. No caso da arquitetura e urbanismo, quais a senhora entende que são os que precisam ser enfrentados a curto prazo?
Os desafios que a mulher encontra, em todas as profissões e principalmente na arquitetura, é que a nossa profissão precisa ser conhecida pela maioria da população do Brasil. Nem homens e nem mulheres arquitetas são reconhecidos como aqueles que podem melhorar a saúde da população e melhorar as condições de moradia de toda a população brasileira. E isso é uma tarefa, é uma missão do nosso Conselho, que deve sensibilizar a população do Brasil da importância do nosso ofício. Homens e mulheres.
4-Quais ações o CAU/BR pretende desenvolver para garantir maior protagonismo às mulheres?
Nós introduzimos a questão de gênero na gestão passada através da Comissão de Equidade de Gênero, também estabelecemos o Dia Nacional da Mulher Arquiteta, dia 31 de julho. Então eu convoco todos os presidentes a comemorar essa data e mostrar que as mulheres do CAU, as mulheres arquitetas, não querem excluir os homens. Nós queremos ser incluídas. Isso é muito importante. E o CAU Brasil está prevendo a revisão e a complementação da política de equidade de gênero que a gente deixou como marca da gestão passada. Então, vamos em frente no sentido de pensar e implementar uma política de equidade de gênero e raça, pois sua necessidade ficou clara no pioneiro diagnóstico de equidade de gênero na arquitetura e urbanismo que promovemos em 2020. Eu convido a todos e todas para visitar o nosso site e conhecê-lo em detalhes.
5- O canteiro de obras, por vezes, se torna um ambiente masculino ou masculinizado. Existe alguma ação de sensibilização aos trabalhadores da construção quanto ao papel da mulher e respeito no ambiente de trabalho?
Nós devemos sensibilizar toda a população brasileira da importância do nosso ofício, ainda mais nesse momento de pandemia. As condições do canteiro de obra, no geral, é um ambiente masculino ou masculinizado, mas nós temos a preocupação dentro dessa política de equidade de gênero, de sensibilizar também as mulheres e valorizar as mulheres. Talvez com uma premiação das mulheres que conseguem coordenar não só o projeto de arquitetura, mas também a sua implementação no canteiro de obras.
6 – Gostaria de acrescentar mais algo?
Eu para parabenizo e agradeço ao CAU/PI por essa iniciativa que me possibilitou esclarecer pontos importantes de nosso escopo de trabalho.